"Descobri que estava grávida daquele monstro"

Por Nininha Cunha, Laurinda Gouveia e Rosa Conde 

Este é um relato feito ao Ondjango Feminista e publicado com a devida autorização de quem o confiou a nós. A sua transcrição foi feita por quem assina este texto. As palavras utilizadas podem ser fortes e muitos destes textos falam de abusos sexuais e outros tipos de violência. 

Por serem relatados na primeira pessoa, primamos por escrever as palavras como as ouvimos, sendo que o texto é apresentado em linguagem corrente e eventualmente poderão surgir gírias, expressões em línguas nacionais e outras. 

O Ondjango Feminista reserva-se ao direito de alterar dados de Identidade ou Localização com vista à protecção da Mulher que nos confiou este momento. 

“...Eu gritava para ele parar, mas parece que batia com mais força, me chamou de puta várias vezes...”

“Naquela semana estava tão feliz, recebi a notícia que tinha entrado na Faculdade... Fiquei bué de anos sem estudar... Então as minhas primas me convidaram para comemorar numa discoteca. A sexta-feira chegou, estava bem animada, gosto de dançar. 

Fomos... A noite foi bem boa, dançamos muito!! Conheci um moço, ele me pediu para dançar, aceitei... Gostei dele, era alto, simpático e bonito, passamos a noite a dançar e a conversar.  Quando eram quatro e tal as minhas primas já estavam cansadas, decidimos ir embora, eu como não tinha dinheiro elas foram pagar a conta. Ele me abraçou como se fôssemos namorados e foi me puxando até o carro dele, obrigou-me a entrar e disse que queria falar comigo, trancou as portas, arrancou com o carro e começou a me bater. Eu gritava para ele parar, mas parece que batia com mais força, me chamou de puta várias vezes. Ele parou o carro e quando dei conta estávamos num terreno escuro, nem sei onde é... 

Me levantou o vestido e baixou a minha cueca, me violou... Pedi pra ele não me matar, voltou a me bater e chamar de puta! Eu chorava, tentei gritar e lutar mas perdi as forças.

Depois arrancou com o carro e paramos perto da discoteca, me empurrou para fora do carro e ameaçou que ia me matar se eu contasse...

Um mês e tal o período não aparecia, fiz o teste e descobri que estava grávida daquele monstro!! 

Estragou a minha vida... Estou sem chão, não sei o que fazer, as vezes tenho vontade de matar com as minhas próprias mãos essa criança que está dentro de mim!!” 

 

 

Foto de Joana Choumali (Costa do Marfim). Conheça o trabalho da artista aqui

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